ALVIN
TOFFLER E A TERCEIRA ONDA
A TERCEIRA ONDA (e a
Quarta onda)
Autor do livro “A 4a. ONDA: Os Novos Rumos da
Sociedade de Informação", Lenilson Naveira e Silva - engenheiro, analista
de sistemas e professor universitário, segue pela linha de pensamento do
norte-americano Alvin Toffler, autor de vários “best sellers” mundiais,
como A 3a. ONDA, O CHOQUE DO FUTURO E PREVISÕES E PREMISSAS, para avançar na
antevisão da 4a. ONDA.
Toffler, analisando a marcha da civilização,
identifica os grandes e importantes períodos da Humanidade.
A 1a. ONDA caracterizou-se pelas
atividades no setor rural, de forma rudimentar e durou cerca de 10.000 anos. É
a exploração do setor primário da Economia, com o homem e sua prole
satisfazendo necessidades essenciais (trabalho, lazer, informação, convívio...)
em torno da cabana primitiva . Nesta onda fluem basicamente os materiais
A 2a. ONDA veio com a atividade
industrial tradicional, constituindo o setor secundário, e já dura 300 anos.
É o tipo de atividade que aliena o industriário porque o faz repetir cerca de
8 a 15 movimentos durante toda a jornada de trabalho. Um dia um industrial se
perguntou como resolver o problema da insatisfação de seus empregados e criou
a automação, começando a substituir o homem pela máquina. Na 2.onda o homem
abandona a sua cabana primitiva e diariamente desloca-se para trabalhar em torno
da "máquina" nos grandes centros industriais. Nesta onda prevalece o fluxo
da energia
Sucedendo isso, vem a 3a. ONDA, a fase do
terciário, quando o homem retorna para a sua cabana eletrônica, para
satisfazer necessidades essenciais. Nesta onda flui a informação. É a fase
calcada no setor dos serviços, a da Informática, através dos computadores,das
telecomunicações, da robótica, dos microprocessadores. Esta onda está começando
por via dos países mais desenvolvidos. Outros, como é o caso do Brasil,
convivem ao mesmo tempo com as três ondas, tendo que se infiltrar nas
atividades da 3a. por questão de sobrevivência.
A tese do Prof. Lenilson é a de que, para
continuar avançando, de forma que tenda a ser cada vez mais acelerada, na
disputa pela tecnologia desenvolvida, torna-se indispensável investir no Homem,
ou seja, explorar a intimidade do ser, a fim de melhorá-lo para poder conviver
com as altas tecnologias, sem ser esmagado por elas nem utilizá-las de maneira
desastrosa.
Se o centro de interesse da pesquisa não se voltar para a
intimidade do Homem e o cultivo dos valores morais, torna-se muito perigoso de
ele se auto-destruir. O próprio avanço tecnológico vem conduzindo à
democratização, deixando na mão de muitos parcela considerável de
conhecimentos, possibilitando assim, a manipulação das altas tecnologias, as
quais já dispõem de poder para destruir a vida no planeta 10 vezes.
Essa tecnologia moderna da cibernética quanto
mais avança mais rápido tende a prosseguir. O poder muda de forma, e isto leva
os governantes, notadamente das nações mais desenvolvidas, a perceberem que a
grande necessidade do momento é o investir no conhecimento mais aprofundado do
próprio homem. A questão é buscar condições intrínsecas tais que lhe
permitam continuar avançando sem correr o risco da autodestruição. A quarta
onda é, portanto, a do auto-conhecimento.
COMPARAÇÃO ENTRE A 2a. E 3a. ONDA
Alvin Toffler previu a revolução da Informática e uma de suas
"profecias" que dizia que "no limiar do século XXI o
analfabeto seria o que não soubesse usar o computador" se
concretizou antes do prazo previsto. |
No quadro, abaixo, resumimos e e comparamos os parâmetros que
caracterizam as duas revoluções tecnológicas mais importantes dos últimos
séculos. |
PARÂMETROS
|
A Revolução Industrial
2.ONDA
|
A Revolução da Informática
3.ONDA
|
Fatores de produção: |
Terra, trabalho, capital |
Conhecimento / Informação |
Capital: |
- Alicerçado em bens tangíveis (aço, petróleo)
- Recursos escassos
|
- Com base em bens intangíveis (tecnologia, software)
- Teoricamente sem limites
|
Moeda: |
Ouro, papel moeda |
Eletrônica / digital |
Trabalho: |
- O trabalho físico é predominante
- Mecânico e repetitivo.Sistema de remessas
- Horários fixos
- Em fábricas e escritórios
|
- O trabalho mental é predominante
- Mais criativo, menos íntercambiável
- Fluxo contínuo. ininterrupto
- Em casa, no carro, no avião, etc
|
Inovação: |
Intermitente |
Constante |
Escala: |
Os grandes negócios e as grandes unidades de trabalho
dominam |
Pequenas empresas e unidades de trabalho são mais
importantes |
Infra-estrutura. |
Ênfase no transporte. (estradas, pontes. instalações
portuária) |
Ênfase na comunicação (sistema neural eletrônico com
base em redes inteligentes) |
Velocidade transacional: |
Relativamente rápida |
Em tempo real |
ENTREVISTA COM ALVIN TOFFLER
Rodrigo Amaral
O mundo está vivendo uma terceira onda de revoluções culturais e tecnológicas,
e um dos possíveis resultados das mudanças que estão acontecendo no momento
pode ser o aumento da desigualdade em países como o Brasil.
É o que afirma o economista americano Alvin Toffler, um dos mais renomados
“futurólogos” do planeta, autor de best sellers como A Terceira Onda
e O Choque do Futuro, que venderam milhões de exemplares em todo o
mundo.
Mas Toffler alerta que os países que querem reduzir a pobreza no futuro não têm
outra opção além de se adaptar à revolução em curso, por meio de
investimentos em tecnologia, mas também em fatores mais básicos como a educação
e a alimentação das crianças.
Leia a seguir os principais trechos de entrevista por Alvin Toffler à BBC
Brasil:
BBC Brasil - O sr. tem escrito que estamos vivendo uma terceira onda de mudanças
tecnológicas, políticas e culturais, e que esta nova onda já chegou a países
como o Brasil, a Índia e a China. Como se pode identificar os efeitos dessas
mudanças no dia-a-dia das pessoas, por exemplo, no Brasil?
Alvin Toffler - No caso do Brasil, por exemplo, eu acredito que existam na
verdade três países diferentes. Há o Brasil da primeira onda, em que as
pessoas trabalham na terra da forma que seus ancestrais faziam há centenas de
anos, produzindo só o necessário para sobreviver. O Brasil da segunda onda é
visto em São Paulo e em várias outras regiões do país, com grande urbanização,
muitas indústrias, engarrafamentos e poluição. E também é possível
encontrar no Brasil, de uma forma ainda incipiente, uma parte da sociedade que já
vive a terceira onda. São pessoas que estão na Internet, usam computadores de
forma rotineira e têm empregos que exigem um conhecimento cada vez mais
sofisticado. O Brasil é um país heterogêneo, cultural e racialmente, e hoje
também comporta três estruturas econômicas diferentes.
BBC Brasil - Mas a maioria das pessoas gostaria de fazer parte da parte mais
avançada do país. O que se pode fazer para que todos tenham acesso à terceira
onda?
Toffler - Bom, o Brasil já tem alguns milhões de usuários da internet, e
um programa de difusão da rede bem desenvolvido. Existem esforços no sentido
de reduzir as desigualdades no acesso às novas tecnologias, e isso em vários níveis
de governo. Mas é bastante difícil. Dada a situação da economia global, [ou
problemas internos] essas iniciativas podem se desacelerar. Até nos Estados
Unidos isso vem acontecendo. Mas não se pode parar. A passagem para a terceira
onda é um processo de longo prazo, muito profundo, e não vai se interromper de
uma hora para outra.
BBC Brasil - Um problema bastante típico do Brasil e outros países em
desenvolvimento é o da desigualdade. A terceira onda, baseada no conhecimento,
não pode aumentar a distância entre os privilegiados e os marginalizados?
Toffler - Sim, isso pode acontecer. Mas não há esperanças de acabar com a
pobreza em um país sem esse tipo de avanços tecnológicos e econômicos.
BBC Brasil - Mas que medidas os governos podem tomar para reduzir a
desigualdade na nova economia?
Toffler - Bom, cada país é um caso diferente. Quando estive no Brasil
muitos anos atrás, o governo planejava gastar milhões de dólares na construção
de uma ferrovia que ligaria o norte ao sul do país. Eu disse na época que não
era uma boa idéia. Outras coisas eram mais importantes. Era melhor usar o
dinheiro para alimentar as crianças e desenvolver a agricultura para o consumo
doméstico. Outra parte poderia ser usada para melhorar a educação. Uma
pequena parte deveria ser destinada ao desenvolvimento da tecnologia para a
terceira onda.
A única esperança de escapar da miséria é habilitar as pessoas para que elas
produzam mais, e isso só vai acontecer com a difusão do conhecimento. É a
isso que essa nova revolução se refere. Você precisa ser capaz de aplicar em
atividades econômicas métodos inovadores e que aumentem a produtividade.
Por exemplo, o Brasil não é o único país que tem as três ondas. A China
também. Eu encontrei alguns dos líderes do governo chinês por diversas vezes.
Na primeira vez, eles me disseram que tinham 900 milhões de camponeses da
primeira onda, uns 200 milhões de trabalhadores na segunda onda, e 10 milhões
de pessoas já na terceira onda. Usaram uma linguagem semelhante à que eu e
minha equipe usamos. O Brasil já esteve em uma situação melhor que os
chineses, mas a China é liderada por pessoas que entendem a importância da
tecnologia e da economia baseada no conhecimento. Eles têm problemas
gigantescos mas souberam se orientar para o sucesso. Seus líderes atuais estão
muito conscientes da necessidade de desenvolver o setor de sua economia que está
integrado à sociedade de informação.
BBC Brasil - Então o Estado precisa assumir uma nova função em algumas
partes dos países em desenvolvimento, mas em grande medida precisa continuar
fazendo coisas que são sua função já há vários anos, como garantir
alimentação, educação e saúde para todos...
Toffler - Em primeiro lugar, é preciso que as pessoas se alimentem. Eu
lembro ter tido esse tipo de conversa no Brasil. Se as crianças sofrem de
desnutrição, seus cérebros não vão funcionar direito no futuro. Também é
preciso buscar o desenvolvimento econômico por meio de estratégias mais
tradicionais – encarar as brigas sobre comércio e outros temas assim. Mas
também se deve investir no potencial dos jovens mais capazes de que um país
dispõe, e eles devem se integrar aos setores que lideram a economia global.
No tempo estive no Brasil, eu aconselhei que o governo que investisse pequenas
quantias de dinheiro em áreas de tecnologia de ponta fora do Brasil, como nas
empresas de informática do Vale do Silício, nos Estados Unidos, ou em áreas
que produzem conhecimento de alta qualidade em biotecnologia. Deveria fazer
pequenos investimentos e enviar cientistas e engenheiros brasileiros para esses
lugares. Mesmo se o investimento não gerasse grandes lucros, pelo menos esses
profissionais voltariam ao Brasil com conhecimentos que poderiam ser usados de
forma mais avançada no país.
A biotecnologia será uma enorme indústria no futuro. A saúde das próximas
gerações vai depender do que será criado pela associação da biotecnologia
com a informática. Este é um campo ainda em seu começo. O Brasil tem uma
ampla biodiversidade e pode se valer de muitas oportunidades na área de
biotecnologia. Ignorar um tema desses porque há problemas no presente é um sério
erro, se você está preocupado com o futuro.
BBC Brasil - O que os países em desenvolvimento podem fazer para ter um
papel nessa nova fase da revolução que o senhor prevê – a associação da
genética com a informática?
Toffler - Uma coisa que já sabemos é que pesquisas em biotecnologia são
bem mais baratas do que o desenvolvimento de programas espaciais – que são
maravilhosos, mas muito caros. Mesmo investimentos no setor siderúrgico, por
exemplo, são bastante elevados. As novas tecnologias que estão sendo geradas
por pesquisas no campo biotecnológico são comparativamente baratas.
Esta é uma oportunidade especial para países como o Brasil. O que se deve
fazer é aproveitar oportunidades para trabalhar junto com países mais
desenvolvidos ou mesmo com outros países latino-americanos. Nada impede a criação
de um consórcio latino-americano para a biotecnologia. É claro que esse tipo
de iniciativa é complicada pelas enormes pressões dos problemas imediatos
enfrentados pelos países em desenvolvimento. Mas não fazer essas coisas é
garantir a continuidade da pobreza.
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